sábado, 16 de agosto de 2008

Vivendo num Titanic


"Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus que ressuscita os mortos." II Coríntios 1:9


Corria o ano de 1912. Todas as atenções estavam voltadas para a inauguração da maior máquina construída até então, com 46 mil toneladas e 260 metros de comprimento: o famoso Titanic.


Só para se ter uma idéia, em pé, o navio teria a altura de um prédio de dez andares e chegou a ser apelidado de o “insubmergível” (unsinkable, em inglês).

Mas a viagem inaugural, com saída da Inglaterra e chegada (jamais concretizada) aos Estados Unidos, foi, na verdade, um dos maiores desastres do século 20. Em meio ao Oceano Atlântico, no dia 15 de abril, o “insubmergível” acabou esbarrando em um bloco de gelo e afundando em apenas duas horas e quarenta minutos.


Dos 2.228 passageiros a bordo, 1.523 morreram.Ocorrida há quase 100 anos, essa triste história ainda dá o que falar. Já inspirou uma dezena de filmes e cerca de 100 livros. Num deles – A Cultural History of the Titanic Disaster - lançado em 1996 nos Estados Unidos e ainda não traduzido para o português, o historiador americano Steven Biel se propõe a mostrar como cada época extraiu uma lição diferente do mesmo drama.


Nos tempos do naufrágio, por exemplo, a história serviu para alimentar debates sobre racismo e feminismo. Até os nazistas aproveitaram a “onda” Titanic. E nós, cristãos, poderíamos fazer alguma analogia com a história do “insubmergível”? Creio que sim. E, para tanto, utilizarei as experiências vividas por três personagens bíblicos: o apóstolo Pedro e os reis Nabucodonosor e Saul.O apóstolo Pedro manifestou seu “complexo de Titanic” ao declarar a Cristo: “Ainda que todos se escandalizem por Tua causa, eu nunca me escandalizarei”, e, “ainda que seja necessário morrer contigo, de modo nenhum Te negarei” (Mateus 26:33 e 35).


Pedro se considerava inabalável, “insubmergível” em sua fé. No entanto, algumas horas depois, negava a Jesus. Qual era o problema do intrépido discípulo? Confiança demais em si mesmo.Cerca de 500 anos antes, outro personagem sofreu as conseqüências do egocentrismo. Ao caminhar pelos corredores suntuosos de seu palácio, Nabucodonosor jactava-se: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder, e para glória da minha majestade?” (Daniel 4:30). De fato, Nabucodonosor havia tornado Babilônia uma grandiosa capital. Construíra 53 templos, 955 pequenos santuários, bem como obras fantásticas como os Jardins Suspensos. Mas seu problema, à semelhança de Pedro, era o eu. Esquecera que seu poder advinha do Senhor (Daniel 2:37).


Resultado: o grande e inabalável rei pastou como animal durante sete anos, aprendendo amargamente o valor da humildade e que “a verdadeira grandeza consiste na verdadeira bondade” (Profetas e Reis, pág. 521).


Nosso terceiro “Titanic espiritual” foi o primeiro rei de Israel. O jovem Saul, escolhido por Deus para uma importante posição, atribuía, à princípio, a glória as Senhor por suas grandes realizações.

No entanto, mais tarde, tomou para si a honra e “perdeu de vista sua dependência de Deus, e em seu coração afastou-se do Senhor” (Ellen White. Patriarcas e Profetas, pág. 521).

Preparou, assim, para si o próprio naufrágio. Imergiu completamente no mar do pecado, consultando uma feiticeira (I Samuel 28) e suicidando-se após uma batalha perdida para os filisteus (I Samuel 31). “Quando Saul preferiu agir independentemente de Deus, o Senhor não mais pôde ser seu Guia” (Patriarcas e Profetas, pág. 682). Aliás, essa é a causa de todos os naufrágios espirituais. Extrema confiança em si e nenhuma dependência de Deus. Muitos, assim como o “insubmergível” Titanic, vivem orgulhosamente como se Deus não existisse, até o momento em que o “iceberg” da doença, decepção, tristeza ou morte esbarra em suas vidas. Alguns, nesse momento, agarram a mão amorosa do Pai, sempre estendida em sua direção. Outros, infelizmente, afundam.

O Titanic era, sem dúvida, uma maravilha da engenharia náutica, mas nem isso pôde garantir a vida daquelas 1.523 pessoas. Em contrapartida, a Arca de Noé, feita inteiramente de madeira, preservou a vida de seus oito tripulantes em meio às ondas turbulentas do dilúvio. A diferença não estava no material ou no modelo dos barcos, mas sim no poder que os mantinha. O Titanic contava com motores poderosos.

A Arca era amparada pelas mãos que sustentam o Universo.E esse mesmo poder está à nossa disposição hoje. Precisamos confiar mais no Espírito Santo e menos no que Ellen White chama de “instrumentalidades humanas”.

Quando toda auto-suficiência, orgulho e egocentrismo forem arrancados de nosso coração, teremos a certeza de que “o Senhor guiará com segurança ao porto a nobre embarcação que conduz Seu povo” (Review and Herald, 20 de setembro de 1892). Clezivaldo Mizael