sexta-feira, 11 de julho de 2008

Época tenta imaginar Jesus


Uma antiga edição da revista Época de 19 de dezembro do ano passado também aproveitou o clima religioso do Natal para estampar Jesus na capa e deixar sua pitada de ceticismo em relação à Bíblia Sagrada.No texto “A construção de Cristo”, Ivan Padilla tenta explicar como “um profeta entre dezenas de pregadores” da época conseguiu a façanha de espalhar Sua mensagem a todos os cantos do mundo (hoje, o cristianismo é professado por 2 bilhões de pessoas, um terço da população mundial).
De acordo com o texto, a tremenda difusão do cristianismo foi uma questão de momento histórico certo: havia muita opressão e pobreza no primeiro século da era cristã, e o cristianismo pregava a caridade e o amor ao próximo; além disso, era uma mensagem universal que foi disseminada na língua mais corrente da época, o grego; atribuía papel ativo às mulheres; e, por meio do relato dos milagres e da ressurreição de Cristo, tinha adquirido uma “aura mística”.As perguntas axiomáticas da matéria de Época são as seguintes: “O que fez de Jesus um profeta diferente dos demais? Como Ele Se tornou Cristo – o ungido, em grego?”Com a destruição de Jerusalém pelos romanos, no ano 70, explica Padilla, “o desamparo do povo aumentou ainda mais a ânsia por uma resposta espiritual, mas ao mesmo tempo desvinculada do culto anterior a Jeová”. (Aliás, diga-se de passagem, Padilla se refere a Jeová como “deus”.)

Na verdade, se se analisar bem a história do cristianismo primitivo (antes de sua paganização após a “conversão” do decadente Império Romano), fica evidente que o cristianismo mantinha suas “raízes judaicas”. Os primeiros cristãos seguiam as normas dietéticas prescritas pela Torá, não permitiam a adoração de imagens e guardavam o sábado (cf. Lucas 23:56 e Atos 16:13 e 17), para citar apenas três exemplos.
O que deixou de vigorar – até porque estava previsto nas Escrituras – foram as cerimônias do templo, que eram “figura e sombra” (conforme o livro de Hebreus) do sacrifício feito por Jesus, “o Cordeiro de Deus” (João 1:29). E não se pode dizer que houve um rompimento do culto a Jeová, uma vez que o próprio Jesus Se identificou como Jeová encarnado (“Antes que Abraão existisse, Eu Sou” [uma alusão de Cristo a Jeová, que Se apresentou a Moisés como o “Eu Sou”]; “Eu e o Pai somos um”; etc.). Não apenas a ressurreição de Cristo é um evento fantástico; Seu nascimento também o é (a menos que sejam ignoradas Suas claras reivindicações de divindade e se considere Jesus apenas um ser humano, contradizendo claras afirmações bíblicas, como Romanos 9:5 e Tito 2:13).

Época cita o historiador Alan Dundes, da Universidade de Berkeley, para quem relatos como o nascimento virginal de Jesus são apenas mitos. Autor do livro In Quest of the Hero, Dundes diz ter encontrado 17 pontos em comum entre os evangelhos e outros mitos, e afirma que “muitos dados biográficos de Jesus foram adaptados pelos evangelhos como forma de criar uma atmosfera épica”.
Então questiona o nascimento de Jesus em Belém (para ele, o Messias nasceu em Nazaré) e supõe que o número de apóstolos é uma referência simbólica às 12 tribos de Israel.O coordenador do curso de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo, Paulo Roberto Garcia, é outro dos citados por Época. Segundo ele, “querer saber o que realmente aconteceu é equivocado. Jamais saberemos o que Jesus disse. Os dados que temos foram filtrados, alterados ou inventados”. É o tipo de autoridade ideal para uma matéria que visa a “desconstruir o mito” em torno de Jesus. Um teólogo... Que pena.

Época (como outras revistas afins) seleciona bem suas fontes e ignora ou não se dá ao trabalho de consultar os inúmeros livros e teólogos que pensam diferente com relação à confiabilidade dos relatos bíblicos. De modo geral, revistas como Época preferem acatar as suposições de estudiosos (quase sempre céticos) a dar crédito aos relatos bíblicos, escritos, muitos deles, por testemunhas oculares dos eventos narrados. E quando essas publicações citam a Bíblia, tentam apontar “contradições”.

Note:“A ressurreição é um desses grandes atos de fé e, segundo especialistas, uma das principais chaves para decifrar a construção do mito em torno de Cristo. O elemento da vitória sobre a morte não foi atribuído a nenhum outro profeta. As Escrituras Sagradas descrevem o retorno de Jesus três dias após Sua crucificação. De novo, as aparições variam segundo o autor: às vezes é feito de carne e osso, às vezes tem mão furada, às vezes é imediatamente reconhecido, às vezes nem mesmo Seus seguidores mais próximos sabem com quem estão falando”.Se Padilla lesse os evangelhos com mais atenção (ou simplesmente os lesse), perceberia que foram dezenas de aparições do Cristo ressurreto. Portanto, é óbvio que elas seriam diferentes.

O texto de Época conclui reafirmando que “todos esses elementos – a ressurreição, o afastamento do judaísmo, a diversidade de relatos, a falta de barreiras culturais – contribuíram para a rápida propagação dessa nova religião e, posteriormente, para sua consolidação. Para o cristianismo, a fé foi mais poderosa que a história comprovada do filho de José e Maria. E Cristo Se tornou maior que Jesus”.
Será que foi isso mesmo, ou se trata do cumprimento das palavras do Mestre, que disse: “Mas Eu, quando for levantado da terra atrairei todos a Mim” (João 12:32)? Seria um simples mito capaz de levar discípulos à morte, muitos dos quais martirizados? Sabendo da “invenção” da história da ressurreição, ou não tendo absoluta certeza disso, teria Saulo se convertido, levado o cristianismo a regiões longínquas a custo de sangre e suor e, finalmente, dado a vida pela fé no Filho de Deus?

Por que tantas pessoas, dois milênios depois da ascensão de Cristo, continuam se aproximando da Cruz, tendo a vida transformada?Um texto de Ellen White, escrito em 1901, é o retrato exato de nossos dias: “O ceticismo e o que é chamado de ciência têm, em grande medida, minado a fé do mundo cristão em suas Bíblias. Erros e fábulas são aceitos de bom grado, para que eles possam seguir o caminho da condescendência pessoal e não ficar alarmados, pois não procuram preservar o conhecimento de Deus” (Eventos Finais, pág. 199).

“Quando, porém, vier o Filho do homem, achará fé na Terra?” (Lucas 18:8).

Este é o tempo.
Clezivaldo Mizael


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